Certa vez, viajando no período da
noite, avistei São Paulo pela janela do avião e perdi meus olhos naquele
circuito amarelado. Vi afluentes de um rio transportando caixotes de metal. Vi
artérias e veias pulsando glóbulos brancos, vermelhos, azuis e prateados. Vi um
sistema nervoso, pulsando cargas elétricas, iluminando neurônios e transmitindo
informações.
Formou-se em minha mente uma analogia sobre a arquitetura urbana e o inconsciente individual. A cidade é como uma manifestação física de nossas necessidades fisiológicas, emocionais e espirituais. Existem edifícios voltados para a cultura e o saber. Existem edifícios onde moram memórias vivas de momentos que passamos em família ou entre amigos. Existem edifícios para nossos momentos de maior angústia, quando decidimos buscar apoio em forças elevadas. Existem ainda regiões designadas às necessidades mais lascivas.
A ideia de que reproduzimos,
meio sem saber, quem somos e o que somos nas obras e edificações se iluminou
para mim naquela viagem. Dividi tal impressão com alguns amigos que fingiram
compreender bem, mas não acrescentaram nada de útil à analogia. Foi em
conhecimentos antigos que encontrei minha resposta:
“O que está
dentro é como o que está fora.
O que está fora
é como o que está dentro. ”
Meu exercício
para esta semana é bem simples: É um exercício de observação!
Os ambientes que
você frequenta representa as pessoas que povoam aquele lugar? Ao observar o
interior de uma loja, você consegue perceber a lógica por trás de sua
organização? E quando entra na casa de alguém, o que consegue notar? A
disposição dos móveis facilita a circulação ou mantém as pessoas trombando umas
com as outras enquanto transitam em um corredor? O que esta forma de ordem pode
revelar sobre a relação das pessoas naquele ambiente familiar?
Esse exercício
de observação tem, por si só, o poder de aguçar sua percepção sobre a relação
raramente consciente entre os espaços que as pessoas ocupam e sua própria
situação mental, pessoal. Tal lhe permitirá observar o seu próprio ambiente,
seu quarto, sua casa e descobrir maneiras mais produtivas e eficientes de
organizar seu espaço. Seu quarto reflete quem você é? Se não, o que você
precisa mudar sobre ele para que ele reflita melhor sua personalidade, sua
interioridade?
“Assim acima como abaixo.
Assim abaixo como acima.”
Esta equiparação
entre interior e exterior é, também, uma forma de equiparação entre níveis
diferentes de organização. Ao harmonizar a exterioridade material (seu
ambiente) com a sua interioridade mental (sua mente, sua personalidade), você
precisará observar muito bem como as leis de organização estão atuando em ambos
planos – Físico e Mental – e descobrir uma maneira de alinhá-los
apropriadamente.
Quando criei o
Caosofia, eu tinha a convicta intenção de desvelar o mundo pelos olhos do Caos.
Contudo, aqui estou eu falando sobre Ordem e Lei. Darei um simples conselho
àqueles que enxergam uma – inexistente – contradição em minha postura.
Antes de
atirar-se ao Caos, ponha sua vida em Ordem. De bagunça em bagunça, não
enxergamos distinção ou resultado. Se eu chego em um quarto bagunçado e dou um
pontapé numa trouxa de roupas sujas e remexo os pertences espalhados na mesa, o
dono do quarto dificilmente notaria qualquer diferença. Mas caso você chegue em
meu quarto e desalinhe um dos meus cubos de seu devido ângulo, eu notarei! Pois
é necessário estar em perfeita ordem para notar, com a mais aguda
sensibilidade, a ação da entropia em nossas vidas.
Até por acaso! –
Fausto Ramos
********************************************
Ei, psiu! Você ainda está um pouco confuso com esse texto? Acontece que ele acompanha um vídeo sobre o Princípio da Correspondência. Caso ainda não conheça, dê uma conferida no vídeo e volte para o texto com outra compreensão!