sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Execícios Herméticos - 2# Correspondência




Certa vez, viajando no período da noite, avistei São Paulo pela janela do avião e perdi meus olhos naquele circuito amarelado. Vi afluentes de um rio transportando caixotes de metal. Vi artérias e veias pulsando glóbulos brancos, vermelhos, azuis e prateados. Vi um sistema nervoso, pulsando cargas elétricas, iluminando neurônios e transmitindo informações.

Formou-se em minha mente uma analogia sobre a arquitetura urbana e o inconsciente individual. A cidade é como uma manifestação física de nossas necessidades fisiológicas, emocionais e espirituais. Existem edifícios voltados para a cultura e o saber. Existem edifícios onde moram memórias vivas de momentos que passamos em família ou entre amigos. Existem edifícios para nossos momentos de maior angústia, quando decidimos buscar apoio em forças elevadas. Existem ainda regiões designadas às necessidades mais lascivas.

A ideia de que reproduzimos, meio sem saber, quem somos e o que somos nas obras e edificações se iluminou para mim naquela viagem. Dividi tal impressão com alguns amigos que fingiram compreender bem, mas não acrescentaram nada de útil à analogia. Foi em conhecimentos antigos que encontrei minha resposta:

“O que está dentro é como o que está fora.
O que está fora é como o que está dentro. ”

Meu exercício para esta semana é bem simples: É um exercício de observação!

Os ambientes que você frequenta representa as pessoas que povoam aquele lugar? Ao observar o interior de uma loja, você consegue perceber a lógica por trás de sua organização? E quando entra na casa de alguém, o que consegue notar? A disposição dos móveis facilita a circulação ou mantém as pessoas trombando umas com as outras enquanto transitam em um corredor? O que esta forma de ordem pode revelar sobre a relação das pessoas naquele ambiente familiar?

Esse exercício de observação tem, por si só, o poder de aguçar sua percepção sobre a relação raramente consciente entre os espaços que as pessoas ocupam e sua própria situação mental, pessoal. Tal lhe permitirá observar o seu próprio ambiente, seu quarto, sua casa e descobrir maneiras mais produtivas e eficientes de organizar seu espaço. Seu quarto reflete quem você é? Se não, o que você precisa mudar sobre ele para que ele reflita melhor sua personalidade, sua interioridade?

“Assim acima como abaixo.
Assim abaixo como acima.”

Esta equiparação entre interior e exterior é, também, uma forma de equiparação entre níveis diferentes de organização. Ao harmonizar a exterioridade material (seu ambiente) com a sua interioridade mental (sua mente, sua personalidade), você precisará observar muito bem como as leis de organização estão atuando em ambos planos – Físico e Mental – e descobrir uma maneira de alinhá-los apropriadamente.

Quando criei o Caosofia, eu tinha a convicta intenção de desvelar o mundo pelos olhos do Caos. Contudo, aqui estou eu falando sobre Ordem e Lei. Darei um simples conselho àqueles que enxergam uma – inexistente – contradição em minha postura.

Antes de atirar-se ao Caos, ponha sua vida em Ordem. De bagunça em bagunça, não enxergamos distinção ou resultado. Se eu chego em um quarto bagunçado e dou um pontapé numa trouxa de roupas sujas e remexo os pertences espalhados na mesa, o dono do quarto dificilmente notaria qualquer diferença. Mas caso você chegue em meu quarto e desalinhe um dos meus cubos de seu devido ângulo, eu notarei! Pois é necessário estar em perfeita ordem para notar, com a mais aguda sensibilidade, a ação da entropia em nossas vidas.

Até por acaso! – Fausto Ramos

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Ei, psiu! Você ainda está um pouco confuso com esse texto? Acontece que ele acompanha um vídeo sobre o Princípio da Correspondência. Caso ainda não conheça, dê uma conferida no vídeo e volte para o texto com outra compreensão!



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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Exercícios Herméticos: 1# Mentalismo



“O Todo é mente, o Universo é Mental.”

O Todo, Mente Vivente, não cria o Universo Manifesto a partir do vazio, muito menos em um ponto exterior a si mesmo, quanto menos usa de sua própria matéria para manifestar nossa Realidade Mutável.

O Todo PENSA o Universo. Como em um exercício meditativo, o Todo se concentra e, desta forma, cria uma imagem em sua Mente. Esta imagem, na escala da Mente Total, é a nossa existência na realidade, manifesta em todos seus múltiplos níveis. Assinale essa como a primeira lição: o exercício de Criação é análogo a um exercício de foco - de meditação.

Seguindo o Princípio da Correspondência, em uma escala menor e finita, somos capazes de participar nesse ato de Criação de nossa realidade, seguindo a correspondências de Leis e Princípios mentais presentes em todos os níveis de existência. É portanto que eu proponho um exercício cujo único pré-requisito consiste na prática da meditação.

Antes de meditar, pense em alguma questão da sua vida prática que precisa ser solucionada. Seja um processo seletivo, a escassez de algum item essencial ou mesmo um objeto perdido. Utilizarei o exemplo deste último para ilustrar o exercício.

Coloque-se em posição relaxada e medite por até dez minutos - ou até atingir o estágio de meditação profunda. Pense sobre o objeto perdido, busque-o em sua memória. Pense em momentos que você passou com esse objeto e porque é de suma importância que você volte a o encontrar.

Agora vem a etapa mais fundamental: visualize o objeto, tão tacitamente e presente quanto possível. Pense em suas formas, atributos, verbalize essas características em sua mente, e a visualização ganhará mais força. Sinta o peso desse objeto em suas mãos, a textura - brinque com ele.

Em um estágio mais avançado, construa o cenário ideal em que você encontrará esse objeto. Minha sugestão pessoal é para que você visualize algum momento posterior ao derradeiro encontro - tal facilita a visualização e abre o leque de possibilidades para que o objeto efetivamente encontre seu caminho de volta a você.

Durante este exercício, mentalize os dizeres: “Eu sou co-criador(a) de minha Realidade. Eu participo no ato da Criação.” Tais dizeres são uma forma simples de codificar a operação hermética que está sendo exercitada. É uma maneira de colocar sua mente, finita e limitada, em confluência com o exercício de Criação exercido por uma mente Infinita e Inefável, que é a Mente do Todo.

O resultado de sua visualização será a prova de seu derradeiro sucesso (ou não) com o exercício. O praticante com bom discernimento e sabedoria tem uma baixíssima taxa de fracassos, não por ser demasiadamente poderoso(a), mas por escolher sabiamente suas batalhas.

Até por acaso! - Fausto Ramos

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Ei, psiu! Você ainda está um pouco confuso com esse texto? Acontece que ele acompanha um vídeo sobre o Princípio do Mentalismo. Caso ainda não conheça, dê uma conferida no vídeo e volte para o texto com outra compreensão!






segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Agartha: Amor e Sexo



Semeando a vida no Cosmos, velejando pelas águas do luto e saboreando os encantos do prometido Éden; Agartha fala de mistérios íntimos ao coração dos iniciados. Mistérios que mesmo eu hesito postular em palavras - e que Edgar Franco traduziu tão bem com sua arte poética e filosófica.

As pinceladas de Dr. Franco são encharcadas de referências ao erótico, figurando o sexo como uma manifestação de nossa natureza instintiva, primal e divina. A nudez expressa um estado de pureza - um convite à comunhão com o que há de mais natural em nós.


Meu alicerce para essas observações passa pelo estudo de um sensível pesquisador, José A. Gaiarsa. Psicanalista brasileiro, J.A.Gaiarsa é responsável por trazer ao Brasil as ideias de Wilhelm Reich, discípulo de S.Freud e terapeuta corporal. Faço, portanto, um paralelo entre a obra de Edgar e as ideias que esse escritor nos apresenta sobre o corpo, o sexo e o amor.

O sacro-sexo é um tema central em Agartha. A comunhão entre parceiros representa o próprio Éden - estado de sublime comunhão com o infinito. Enquanto os amantes se entrelaçam e se confundem um no outro o tempo para, o resto do mundo se abstrai, inexistindo outra instância do espaço-tempo senão aquela em que os enamorados se fazem presentes em carne, alma e espírito.


Tal é minha descrição da sublime experiência representada nas páginas de Agartha. Contudo, o mesmo conceito pode ser encontrado em Amores Perfeitos, título da transcrição de um circuito de palestras que J.A.Gaiarsa ministrou em Brasília no princípio dos anos 1990’s. Aqui, o psicanalista descreve as características de um contato vivo, corpo a corpo - alma com alma - que melhor representa o estado amoroso genuíno e enriquecedor.

Eu e você e mais nada. Eu gostaria de comparar essa sensação de isolamento a dois com a formação de um casulo. Ocorre o isolamento porque vai acontecer uma coisa muito importante e muito delicada aqui dentro - entre nós. Só nós dois no universo - é muito bonito isso. - GAIARSA, Amores Perfeitos, p.39-40

O terapeuta também descreve a maneira como esse estado amoroso pode quebrar com a barreira erguida pelas restrições sociais. A couraça muscular do caráter é uma proposição teórica de W.Reich e descrita por J.A.Gaiarsa como “toda a força que eu faço para não fazer aquilo que eu quero, aquilo que gosto, aquilo de que preciso” (Gaiarsa,1994).

Wilhelm Reich descreve o orgasmo - o bom orgasmo - como possuindo a função biopsíquica de quebrar a couraça dos preconceitos e restrições a que nossos corpos são submetidos pelo condicionamento social - regulatório, restritivo e neurótico. Em convergência com W.Reich, George Bataille descreve semelhante estado de derretimento provocado pela união erótica.

O filósofo G.Bataille discrimina um solvente e um catalisador na complexa ritualística do empreendimento amoroso, componentes da reação que dissolve as barreiras do corpo e do Ego, permitindo que aos amantes a comunhão com a continuidade. Enquanto seres finitos, delimitados por nossas identidades - sempre restritivas, neuróticas - nos manifestamos no mundo como seres descontínuos, com começo e fim, nascimento e morte; posturas, gestos, desejos e intenções limitadas por nossas possibilidades no espaço-tempo circunstancial.

O que G.Bataille propõe é que a união amorosa, quando plena, é capaz de desmanchar essas limitações, ao menos, entre os sujeitos que a ela se submetem. Um encontro - agora em J.A.Gaiarsa - individualizante, na medida em que pinça aquele rosto anônimo da multidão e o põem à frente de seu amante, distinto e especial . É necessário perder-se no outro para emergirmos mais seguros de nossa própria identidade. Assim, o amor individualiza, edifica e revigora o espírito.


Tais digressões parecem cair longe do alvo, contudo, é Edgar Franco quem acerta em cheio ao representar o estado amoroso como um gozo prazenteiro, capaz de dissolver amarras e desafiar a consistência do próprio ego. A sensação de aqui-agora se torna tão viva e forte que nossa percepção do espaço se torna maleável quando nos encontramos livres das amarras do tempo. Na comunhão amorosa, somos eu e você, carne e pele - nada de títulos, honrarias ou posição sociais. Tal está estampado em Agartha, para os olhos que se propõem a enxergar.

Ao final da obra, Edgar apresenta um risco sobre a maneira como podemos recorrer a viver o amor de forma egoísta e inconsciente. Da convivência contínua e ininterrupta, pode surgir o tédio, o fatigante e o monótono. Não por coincidência, Gaiarsa alerta sobre o mesmo perigo: todo estímulo quando muito repetido, para de ser notado. É humano - e muito natural. É portanto que o psicanalista sugere, gentilmente, que o segredo para um bom amor é fugir da monotonia.

Vida é variação. Tudo o que não muda, só pode estar morto. “A repetição é a defesa contra a criação” (Gaiarsa, 1994). Franco alerta contra a monotonia do contato contínuo que, quando mal dosado, converte-se em insensibilidade - e o prazer transforma-se em dor.


Estes foram alguns comentários mais profundos sobre referências teóricas e inspiradoras que o trabalho do professor Franco me evocou. Pretendo permitir que esse diálogo de ideias, aspirações e sonhos se prolongue tanto quanto possível. Contudo, por hora, encerro minha prosa convidando o leitor a adquirir a obra pelo link abaixo!
 
http://marcadefantasia.com/albuns/repertorio/agartha/agartha.html


Para mais resenhas, textos e vídeos abordando assuntos profundos sobre magia, psicologia e religião, mantenham-se antenados com o Caosofia e até por acaso!

Fausto Ramos

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Confira também minha vídeo-resenha sobre o álbum Agartha: